51ª
Reunião: Irmão Clemente fala sobre
Formação de Profissionais e Cidadãos para a Sociedade
Contemporânea
Com
pós-doutorado na Universidade de Harvard, na área de
Qualidade das Instituições de Ensino Superior, o professor
Clemente Ivo Juliatto, conhecido como Irmão Clemente e que
foi reitor por 16 anos da Pontifícia Universidade Católica
do Paraná (PUC-PR), integra a grade científica da 51ª
Reunião da Abeno, a ser realizada de 20 a 22 de julho
próximo, na PUC-PR, em Curitiba.
Sob o tema
“Universidade e Responsabilidade: A Formação de
Profissionais e Cidadãos para a Sociedade Contemporânea”,
Irmão Clemente abordará em sua palestra, marcada para o dia
21 de julho próximo, às 14h00, questionamentos sobre a era
atual da política, da sociedade em geral e da vida
profissional, e defende o papel ético e responsável do
docente na formação do aluno.
“Estamos
vivendo a era da mentira? Do faz de conta? Da falsidade? E
até da malandragem? Na política? Na sociedade em geral? Na
vida profissional? Alguns acham que sim. Na política, parece
não haver muita dúvida. Presenciamos isso quase todos os
dias. Na sociedade em geral, constatamos também muita
falsidade cometida e até propagada”, afirma em depoimento ao
Abeno News.
Para o prof.
Clemente, “praticamente em todos os setores da vida social
temos que nos cuidar, porque tanto o que se diz quanto o que
se faz levantam sérias dúvidas. Seriam as coisas, de fato,
como nos aparecem ou nos são apresentadas? Sabemos que as
aparências podem nos enganar”.
No entanto,
ele indaga se também na vida profissional é possível confiar
em tudo o que se vê: “Temos certeza de que há gente
competente e honesta em todos os setores. Infelizmente,
porém, esse não é um caso geral. Tanto isso é verdade, que
antes de qualquer contato, pesquisamos para conhecer a
idoneidade do sujeito em questão. E, mesmo assim, com
frequência, nos enganamos”.
Irmão
Clemente ressalta “que a maioria das pessoas deseja sair-se
bem em tudo, custe o que custar”. “Encontramos muitos com o
desejo de enganar os outros – diz -, mas temos certeza de
que ninguém gosta de ser enganado. Observamos que faz falta
na sociedade a prática de alguns valores que enobrecem os
comportamentos humanos.”
Ele chama a
atenção para os jovens que estão se preparando na
Universidade para atuar na sociedade. “Nossos estudantes,
junto com o diploma de profissionais competentes e éticos,
precisam receber o diploma de ‘gente boa’. A sociedade
precisa melhorar com a atuação dessa instituição
educacional, e nunca piorar, pois a escola continua sendo a
melhor maneira de preparar os profissionais e os cidadãos.”
Diz-se,
acertadamente, que tal mestre, tal discípulo; tal pai, tal
filho, ressalta Irmão Clemente. “Quando alguém pensar numa
pessoa de bem, numa pessoa correta e verdadeira, que pense
automaticamente nos seus pais e nos seus professores, pois o
normal é aprender a agir corretamente no lar e na escola.”
“Por isso,
mais do que ninguém, o docente precisa ser decente. Precisa
ser alguém muito responsável em suas palavras e atitudes.
Sabe-se bem que se educa mais pelo que se é do que pelo que
se diz. Os alunos e os relacionamentos sociais na profissão
estão exigindo grande sinceridade de seus mestres. O tema da
responsabilidade torna-se, então, fundamental na
Universidade. Nela o professor precisa basear a sua vida,
suas relações, suas pesquisas e suas aulas”, defende Irmão
Clemente.
Solenidade de 70
Anos do Curso de Odonto da UFSC
A profa. Maria Celeste Morita,
presidente da Associação Brasileira de Ensino Odontológico (Abeno)
participou das comemorações e compôs a mesa de autoridades
da solenidade dos 70 Anos do Curso de Odontologia da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 19 de maio
último.
Presentes as professoras
Miriam Marly Becker, Izabel Cristina Santos Almeida, Daniela
Lemos Carcereri, Alacoque Lorenzzini Erdmann; os professores
Alfredo Meyer Filho, Ricardo de Sousa Vieira, Mauro Amaral
Caldeira de Andrade, Mario Uriarte Neto, Cleo Nunes de Souza
e o presidente do CRO- SC, Elito Araújo. Na ocasião foram
comemorados também os 45 anos do Curso de Pós-Graduação em
Odontologia da UFSC.
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OdontoLibras
Aplicativo inédito para
atendimento odontológico
de pacientes surdos estará
disponível em breve
Um aplicativo que pode ser
usado em tablets e celulares, especialmente criado para
permitir um contato direto entre o cirurgião-dentista e o
paciente surdo deverá estar disponível para download ainda
neste ano. Na verdade, o produto é muito mais do que um
aplicativo. Trata-se de uma plataforma desenvolvida no
programa de Mestrado em Odontologia da Universidade Estadual
de Londrina (UEL).
O projeto exigiu uma atuação
conjunta dos cursos de Odontologia, Ciência da Computação,
Design Gráfico e Letras/Libras, todos da UEL. De maneira
muito integrada e criativa, a equipe multidisciplinar
especializada reuniu as necessidades dos surdos, da
odontologia, do acervo da Língua Brasileira de Sinais
(Libras), conceitos de saúde pública e as técnicas do design
gráfico.
A ideia de se criar um
aplicativo inédito no Brasil foi da profa. Maria Celeste
Morita, presidente da Associação Brasileira de Ensino
Odontológico (Abeno) e professora associada de Odontologia
da UEL. Ela foi a orientadora da dissertação de mestrado
desenvolvida pela cirurgiã-dentista Valéria Lima Avelar.
O aplicativo OdontoLibras
agora é um protótipo, mas foi aprovado pelos usuários, CDs e
surdos, em testes realizados. Um diferencial do aplicativo é
que ele permite uma conversa direta e privada entre o CD e o
paciente, o que resguarda a privacidade do surdo. O
aplicativo não substitui totalmente o intérprete de Libras,
mas proporciona mais independência ao paciente surdo.
Embora a Lei 10.436, de 2002,
que instituiu Libras como segundo idioma brasileiro, e o
Decreto 5.626, de 2005, que regulamentou a legislação e
determinou que todas as instituições federais de ensino,
desde o pré-escolar até o universitário, devem oferecer
também a alternativa de aprendizado em Libras, a realidade
brasileira não é bem essa. A lei também determina que todos
os serviços públicos de saúde tenham à disposição de
pacientes surdos intérpretes de Libras, outro recurso também
indisponível. “Os primeiros downloads dessa plataforma de
relacionamento entre o CD e o paciente surdo serão
autorizados para as Instituições de Ensino Superior (IESs)
associadas à Abeno, oferecendo uma ferramenta importante ao
ensino de Odontologia no Brasil”, explica a profa. Maria
Celeste.
A dissertação de mestrado de
Valéria tem o título “Uso de tecnologias móveis no
tratamento odontológico para a comunicação com o paciente
surdo” e foi defendida na UEL em 18 de fevereiro deste ano.
Montando a equipe
Para iniciar o projeto,
Valéria conta que precisou “mergulhar” no universo dos não
ouvintes. “Eu não conhecia nada sobre o assunto, mas logo
compreendi que não bastava criar um aplicativo, era preciso
criar imagens específicas e sinais." Esse é outro grande
diferencial do aplicativo, que não é uma tradução
simplesmente, é um conjunto de informações compreensíveis
tanto para o cirurgião-dentista como para o surdo, um
sistema de informação em “OdontoLibras."
A maior parte dos termos
odontológicos como tratamento de canal, periodontia e
implante, por exemplo, não existe na linguagem de sinais,
então foi preciso criar esses sinais.
Como os sinais em Libras
precisam ser elaborados por surdos, o professor de Libras da
UEL, Antônio Aparecido de Almeida, que é surdo, criou os
sinais dos termos odontológicos. Para que Valéria pudesse
conversar com ele, era necessário um intérprete de Libras. E
Thalita da Rocha Marandola, enfermeira que faz mestrado em
saúde pública na UEL e é fluente em Libras, se incorporou à
equipe.
As imagens que aparecem no
aplicativo foram desenvolvidas especificamente para o
projeto pelo aluno do curso de Design Gráfico André Felipe
Bergamim, com orientação da profa. Vanessa Tavares de
Oliveira Barros.
Os sinais criados precisavam
ser disponibilizados para uso em meio eletrônico, função que
ficou a cargo do coordenador do curso de Ciência da
Computação Rodolfo Miranda de Barros. Também fizeram parte
da equipe multidisciplinar as profas. Elisa Emi Tanaka
Carloto e Maura Sassahara Higasi, do curso de Odontologia.
Divisão em etapas
A primeira etapa do projeto
foi dividir o atendimento odontológico em quatro fases:
acolhimento, anamnese, prevenção em saúde bucal e tratamento
das doenças bucais. “Para o acolhimento, foram selecionados
termos já sinalizados como bom dia, boa tarde, sente dor",
explica Valéria.
A anamnese do aplicativo foi
elaborada tendo como base documentos do CFO e da UEL. Aos
questionamentos do CD, o paciente tem de responder sim, não
ou não sei. No aplicativo há ainda as opções de se imprimir
a anamnese ou enviá-la por e-mail.
A criação de sinais para
prevenção e tratamento foram as etapas mais difíceis e a
metodologia utilizada é inédita e foi criada para a
dissertação.
“Para a elaboração de cada
sinal odontológico, foram realizadas oficinas com mesas
clínicas demonstrativas, nas quais participavam a profa.
Maria Celeste, Antônio, Thalita e eu. No tratamento de canal
ou na doença periodontal, por exemplo, eu colocava todo o
instrumental que iria utilizar sobre uma mesa e, com modelos
de dente e de boca, explicava ao Antônio, com tradução em
Libras da Thalita, qual seria o procedimento do CD em cada
caso”, conta Valéria.
A partir desse detalhamento
técnico e, principalmente, visual, que é muito importante
para o surdo, o prof. Antonio idealizava o sinal e conseguia
explicar o procedimento em Libras. Com essas informações e o
apoio da equipe, André elaborava a figura que iria compor o
OdontoLibras. E a equipe de ciência da computação
transportava a figura para o meio digital.
Apresentação completa
Valéria explica que as fases
de prevenção em saúde bucal e de tratamento apresentam
simultaneamente na tela do dispositivo eletrônico móvel três
recursos técnicos diferentes para que o surdo compreenda a
mensagem na íntegra. Há uso de minimalismo, realismo e flat
design para sinais, ícones, imagens simplificadas do
procedimento, além das filmagens do Antônio explicando tudo
em Libras. “O surdo é muito visual, mas simplificamos em
desenhos a realidade de um tratamento, que é muito complexa.
Também preferimos as filmagens com uma pessoa a utilizar um
avatar (figura de animação), porque em Libras as expressões
faciais são fundamentais e avatares não são capazes de
desempenhar expressões de maneira natural como seres
humanos”, destaca Valéria.
O aplicativo é todo
autoexplicativo, tanto para o paciente surdo como para o CD,
que em algumas partes conta ainda com apoio de legendas.
Mas para Valéria, esse foi um
começo. “Me apaixonei pelo projeto - afirma - e quero
ampliar esse trabalho, para ajudar a pessoa surda, propiciar
maior inclusão do atendimento odontológico desse paciente e
dar um retorno nosso para a sociedade.”
Valéria Lima Avelar é formada pela UEL,
especialista em odontopediatria, mestre em Clínica
Odontológica com ênfase em Tecnologia Assistiva e atua como
cirurgiã- dentista com clínica em Londrina (Paraná). Contato:
valeria_avelar@hotmail.com.